A infância é uma fase de descobertas, aprendizado e desenvolvimento emocional. Porém, nem sempre as mudanças de comportamento típicas dessa fase representam apenas características do crescimento. Em alguns casos, podem ser sinais de algo mais sério, como o transtorno de ansiedade em crianças.
Nos últimos anos, estudos da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Sociedade Brasileira de Pediatria apontam um aumento significativo dos casos de ansiedade infantil. Esse transtorno, quando não identificado precocemente, pode comprometer o bem-estar emocional, o desempenho escolar e até mesmo as relações sociais da criança.
Neste artigo, você vai entender como reconhecer os sinais de ansiedade em crianças, quais são as possíveis causas, os impactos no desenvolvimento e como buscar ajuda profissional.
O que é transtorno de ansiedade infantil?
A ansiedade é uma emoção natural que todas as pessoas sentem em algum momento da vida. Nas crianças, ela pode aparecer em situações novas, como o primeiro dia de aula, a apresentação de um trabalho ou até mesmo uma mudança de rotina.
O problema surge quando essa emoção se torna constante, intensa e interfere nas atividades cotidianas. Nesses casos, falamos em transtorno de ansiedade infantil, uma condição psicológica que exige atenção e, muitas vezes, acompanhamento profissional.
Diferença entre ansiedade normal e transtorno de ansiedade
É comum que pais confundam o medo ou a insegurança típicos da infância com sinais de transtorno. Por isso, é importante diferenciar:
Ansiedade comum
- Surge diante de situações específicas (ex.: prova escolar).
- Tem curta duração.
- A criança consegue se acalmar após o evento.
Transtorno de ansiedade
- A preocupação é desproporcional ao evento.
- Os sintomas são frequentes e persistentes.
- A criança apresenta sofrimento significativo que atrapalha a rotina.
Principais tipos de transtorno de ansiedade em crianças
Existem diferentes manifestações de ansiedade infantil. Conhecê-las ajuda os pais a ficarem atentos:
Transtorno de ansiedade de separação
A criança sente medo excessivo de se afastar dos pais ou cuidadores, mesmo em situações normais, como ir à escola.
Fobia social (ansiedade social)
Medo intenso de falar em público, interagir com colegas ou participar de atividades sociais.
Fobias específicas
Medo exagerado de objetos ou situações, como escuro, animais ou altura.
Transtorno de ansiedade generalizada (TAG)
Preocupação constante e desproporcional com diferentes aspectos da vida, como desempenho escolar ou saúde.
Transtorno do pânico
Crises súbitas de medo intenso acompanhadas de sintomas físicos, como falta de ar e palpitações.
Sinais e sintomas do transtorno de ansiedade em crianças
Identificar a ansiedade infantil exige atenção ao comportamento da criança. Os sintomas podem ser emocionais, físicos e comportamentais.
Sintomas emocionais
- Preocupação exagerada com situações do dia a dia.
- Medo intenso de errar ou de ser julgado.
- Irritabilidade frequente.
Sintomas físicos
- Dores de cabeça ou de estômago sem causa médica aparente.
- Taquicardia, suor excessivo e tremores.
- Distúrbios do sono, como insônia ou pesadelos.
Sintomas comportamentais
- Evitar atividades sociais ou escolares.
- Recusa em ir à escola.
- Apego excessivo aos pais ou responsáveis.
Fatores de risco e causas da ansiedade infantil
A ansiedade em crianças pode ter múltiplas origens, geralmente envolvendo a combinação de fatores genéticos, ambientais e psicológicos.
Fatores genéticos
Crianças com histórico familiar de ansiedade ou depressão têm maior predisposição.
Ambiente familiar
Situações de estresse em casa, como separação dos pais ou conflitos constantes, podem contribuir.
Estímulos externos
Cobrança excessiva na escola, bullying ou exposição a conteúdos inadequados também são gatilhos comuns.
Traumas e experiências negativas
Mudanças bruscas, como a perda de um ente querido ou mudança de cidade, podem desencadear crises de ansiedade.
Impactos da ansiedade infantil no desenvolvimento
Quando não é identificada e tratada, a ansiedade infantil pode trazer consequências sérias para o desenvolvimento emocional e social da criança. Entre os impactos mais comuns estão:
- Baixo desempenho escolar devido à dificuldade de concentração.
- Problemas de autoestima e insegurança.
- Dificuldade em construir amizades e manter interações sociais.
- Maior risco de desenvolver transtornos mentais na adolescência e na vida adulta.
Como identificar o transtorno de ansiedade em crianças

Pais e professores desempenham um papel essencial na identificação dos sinais de ansiedade. Algumas atitudes podem ajudar nesse processo:
Observe mudanças repentinas de comportamento
Crianças que antes eram comunicativas podem se tornar retraídas, enquanto outras podem apresentar explosões de raiva sem motivo aparente.
Repare nos sintomas físicos recorrentes
Queixas frequentes de dor de cabeça, dor abdominal ou mal-estar podem ser manifestações da ansiedade.
Acompanhe o desempenho escolar
Dificuldades de concentração, queda nas notas ou recusa em participar de atividades podem indicar ansiedade.
Converse com a criança
Abrir espaço para o diálogo é fundamental. Muitas vezes, a criança não consegue expressar seus medos sozinha e precisa de incentivo para falar sobre eles.
O papel dos pais no apoio à criança ansiosa
Os pais podem adotar medidas simples no dia a dia que ajudam a reduzir os sintomas de ansiedade infantil.
Estabeleça uma rotina
A previsibilidade traz segurança e ajuda a criança a lidar melhor com situações de estresse.
Evite cobranças excessivas
O incentivo é importante, mas a pressão exagerada pode intensificar os sintomas de ansiedade.
Promova atividades relaxantes
Brincadeiras ao ar livre, leitura e práticas como respiração guiada ajudam a reduzir a tensão.
Quando buscar ajuda profissional?
Se os sintomas de ansiedade forem persistentes e interferirem na rotina da criança, é fundamental buscar apoio especializado. Psicólogos infantis estão preparados para identificar o transtorno e indicar a melhor abordagem terapêutica.
Em alguns casos, pode ser necessário também o acompanhamento médico com psiquiatras infantis, que avaliam a necessidade de tratamentos complementares. Quanto mais cedo for feito o diagnóstico, maiores são as chances de sucesso no tratamento.
Estratégias terapêuticas para ansiedade infantil
O tratamento do transtorno de ansiedade em crianças é individualizado, mas algumas abordagens são bastante eficazes.
Psicoterapia
A terapia cognitivo-comportamental (TCC) é uma das mais indicadas para crianças ansiosas, ajudando a identificar pensamentos disfuncionais e substituí-los por estratégias mais saudáveis.
Orientação familiar
Envolver os pais no processo é essencial. A família deve aprender a lidar com os sintomas da criança e oferecer apoio constante.
Intervenção escolar
Professores também precisam ser orientados para compreender a condição e oferecer suporte no ambiente escolar.
Atividades complementares
Exercícios físicos, técnicas de relaxamento e práticas de mindfulness podem auxiliar no controle da ansiedade.
Dessa forma, identificar o transtorno de ansiedade em crianças é um passo fundamental para garantir um desenvolvimento mais equilibrado. A infância deve ser uma fase de aprendizado e descobertas positivas, e isso só é possível quando a criança se sente segura, acolhida e compreendida.
Portanto, com atenção dos pais, acompanhamento profissional e estratégias adequadas, é possível controlar os sintomas da ansiedade infantil e oferecer às crianças um futuro mais saudável, emocionalmente estável e cheio de possibilidades.


